segunda-feira, 27 de junho de 2011

Um bicho estranho



É difícil pra maioria das pessoas entenderem que eu sou hibrída.

Estão sempre me perguntando “de onde sou”, oras, nasci em São Paulo, capital, mas simplesmente não acho certo ou justo dizer que sou só paulistana.

Nasci em São Paulo, mas uma parte importante da minha vida (cerca de metade dela) vivi em Sengés, no estado do Paraná, uma cidadezinha pequenininha, nem um pouco parecida com São Paulo. Foi lá que eu consolidei o meu caráter e digeri os valores báscios que carrego comigo sempre, estando lá ou cá.

Por isso eu sempre hesito a responder. Não é pra fazer charme não, até porque explicar tudo dá sempre mais trabalho!

Sou paulistana no meu coração, amo o ritmo acelerado e principalmente a flexibilidade de ser paulistana. Mas ao mesmo tempo tenho “pé-vermelho” de paranaense do interior, gosto de sentar na calçada e olhar o céu e gosto de sair na rua e cumprimentar metade da cidade (todo mundo se conhece afinal!) com um simples gesto de sobrancelha ou com um comprido “booom?” (“tudo bem?” em preguicês).

Podem querer me prender a uma origem e facilitar as nomenclaturas, mas sigo dizendo que eu sou assim, uma cruza de São Paulo com Paraná, de metrópole com cidade pequena, de cinzento e verdejante. Meio paradoxal, mas bem resolvida com esse jeito meu de ser assim, um bicho estranho.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Um sorriso aqui em algum lugar.




Há hoje um sorriso aqui,
Em alguma instância da minha vida.
Onde não existem flores,
Nem bombons, nem beijos...
Onde não haja dores.
Há um sorriso liberto,
Sincero e gostoso,
Há vontade de vida.
Desvarrida,
Desvirada,
Desvairada.
Sem amor de você e eu.
Só de amor de mim pros outros.
Porque eu sorrio,
Sorrio verdadeiro e irônico,
Por isso um dia eu te escrveria,
Eu te escreveria um blues maroto:
"Você me travou pro amor meu bem.
Eu posso estar só, eu posso estar com mais de cem...
Eu não te amo, mas acho que não vou mais amar ninguém."

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Até beijo de seriado me arranca um suspiro*




"Essa carência de querência
Me faz querer um quê que não era querido.
Chega perto e faz um aconchego,
Dá um 'chêro ligêro'
Que eu quero.
Nem que fique só o chêro no cabelo,
Que quando a gente lava vai embora.
Vai embora porque não pode 'ficá'...
Fica só por enquanto um dedinho de carícia
Que não vai 'voltá'...
Mas que não importa se volta,
Porque não era nada que eu queria 'achá'...
A gente às 'vez' acha o que não procura e não tem que se 'perguntá',
Hoje, eu vô durmi com teu cafuné reverberando como ondas de cabelo bagunçado...
E amanhã que venha 'ôtro dia devagarinho'
Sem necessidade de esperá...
Eita carinho bom!"




*Título extraído de: Interlúdio Para Um Bar de Beira de Estrada Por 33 Anos Fora do Mapa (Dance Of Day).

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Hei de ir a Marte até morrer.


Quem nunca pensou que "na madrugada a vitrola rolando um blues, tocando 'de biquíni' sem parar"??? Cláudio Zoli deve se debater em sua "Noite do Prazer" ao ouvir as pessoas cantando sua música assim. Ela é um dos maiores hits das músicas com ambiguidades fonéticas absurdas, ou seja, as que você ouve, canta, e dez anos depois descobre que não era NADA do que você imaginava. Se você tem estômago fraco (ou o ouvido fraco neste caso), pare por aqui.

Para Dani, por exemplo "Amarelo deserto e seus temores... Vida que vai na sela destas dores...". Quase imbatível na arte de massacrar Djavan.
Mas o CB garantiu o ápice, fazendo a Angélica querer "ir de táxi" pra beeeem longe, quando assassinou o hit Blue Jeans dela nos anos 80, trocando o "tênis velho no pé" por "tem mistério no pé"... Já se viu pé ter mistério???
Já eu não tenho esses problemas não... Talvez uma vez ou outra na adolescência, naquela fase em que você conhece Legião Urbana e não entende 80% das palavras de "Faroeste Caboclo"... Hoje em dia eu tiro isso "de letra"! (Han han, pega o trocadilho nessa!).

Mas agora deixem-me ir pois a Elba Ramalho vai estar no JÔ Soares e eu adoro aquela música dela que diz "Sou rosa vermelha. Ai meu bem querer! Beija-flor sou tua rosa, hei de ir a Marte até morrer". Será que ela vai cantar??? =D

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sentimento Schopenraueriano ( Ou : "O ceticismo e o amor não combinam" ou ainda "Auto-desconstrução").


Alguém, destroce-me em pedaços,
Que tenho estado tão sólida que já não sinto mais meu peito bater.
Minha memória só trabalha maquinalmente,
Fazendo-me lembrar de tudo sem sentir nada.
Que se vá o frio.
Que se vá o frio.
E que o calor faça meu corpo desejar algo novo,
Que eu deseje algo certo,
Ou que deseje algo errado,
Mas que DESEJE.
Que eu deixe de ser toda minha e toda razão,
Pois não posso desejar enquanto estiver estacada em mim.
(Não almejo ser um espírito excepcional)




"A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais."
(Arthur Schopenrauer)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Sentimento Vertoviano. (Ou: "As provas e o amor não combinam").


Alguém junte os meus pedaços,
Estão todos dispersos por aí...
Minha memória se abriu para o esquecimento,
E se fechou em algo não palpável.
Que venha o frio.
Que venha o frio.
Só saio daqui quando meus dedos congelarem.
Só saio daqui depois do fim
Depois do sim,
Depois de mim.
Estou de partida,
E um pedaço meu
Já tá contigo.

(To Little Geek)

terça-feira, 28 de abril de 2009

Jantar à prova de choques? Não.




Já faz algum tempo que não via um filme que me deixasse chocada. Pra falar a verdade, não consigo nem lembrar qual foi a última vez... A façanha, enfim, é de “Festa de família” (Thomas Vintenberg – 1998), o primeiro filme realizado dentro das regras do Dogma 95, que podemos chamar de “um movimento cinematográfico” idealizado na Dinamarca por Vintenberg e o tão conhecido Lars Von Trier em 1995.

Nada nesta festa de família parece com qualquer coisa que eu já tenha visto. A primeira impressão vem no primeiro segundo do filme: O QUE É AQUELA MOVIMENTAÇÃO DE CÂMERA ou simplesmente a falta de? Uma câmera na mão, posicionada no último lugar onde você imaginaria que a bendita esteja! Qualidade da imagem e da iluminação extremamente duvidosos (isso, ainda sendo muito legal com o filme...). Apesar de já ter discutido algum dia da minha vida o Dogma 95, de fato não tinha visto suas “10 regras” sendo colocadas em prática!

Ok. Uma estética totalmente fora do convencional. Até mesmo comparado aos filmes mais distantes da “narrativa clássica” é surpreendente. Mas o que há por vir ainda surpreende tanto quanto. A história vai se desenvolvendo num enredo totalmente inesperável. Por mais que festas de família estejam sempre sujeitas a uma “lavada de roupa suja” em público, o que acontece com este filme em especial parece um pesadelo deveras irônico. Revelações de um filho “adulterado pelo pai adúltero” (se é que me entendem), um suicídio mal explicado, e uma família que até os últimos instantes parece não ser afetada por nenhuma destas aberrações reveladas a cada tilintar da taça de Christian, o filho mais velho do patriarca que está completando 60 anos nesta festa.

No fim das contas concluo que “Festa de família” é um conjunto: uma estética subversiva e um enredo abominável (no melhor sentido que se possa ter), “sozinhos não fazem verão”, mas juntos, têm este resultado explosivo! Você assiste, a cada plano sua garganta vai ficando seca, por vezes você se pega de boca aberta e, ao terminar, parece que suas palavras fugiram de você pra sempre. Pra mim foi um transe, um daqueles momentos em que os sentimentos somem e que você não consegue sequer refletir sobre o que viu, muito menos prestar atenção no final da aula e nas divagações de sua professora.

Eu poderia passar horas escrevendo sobre “Festa de família”, sensações e Dogma 95, mas vou ser sensata e parar por aqui, deixando, quem sabe, uma semente de vontade de assistir ao filme em cada um que ler este texto.